terça-feira, 12 de julho de 2011

A Misericórdia de Deus (Santa Margarida de Cortona)

Ainda que o pecado seja uma coisa terrível, a misericórdia de Deus excede-o em muito. O Antigo Testamento fala em numerosas ocasiões da Misericórdia de Deus. Por exemplo, o Salmo 136 diz: “Louvai o Senhor porque é bom, porque a sua misericórdia é eterna”. Uma das primeiras encíclicas de João Paulo II († 2005) foi Dives in misericórdia – literalmente “[Deus, que é] rico em misericórdia” (cf. Ef 2,4) – sobre a infinita misericórdia de Deus. O Rosário da Divina Misericórdia, que nos chegou através de Santa Maria Faustina († 1938), tem em vista ajudar-nos a compreender a infinita misericórdia de Deus. Deus disse à santa que esse era o seu maior atributo.
Na vida dos pecadores que se converteram e chegaram à santidade, como Agostinho e Maria Madalena, encontramos exemplos maravilhosos da infinita misericórdia de Deus, mas há uma santa cuja vida nos fala, mais do qualquer outra, dessa misericórdia: Santa Margarida de Cortona. Os que tenham cometido muitos pecados na sua vida passada, a ponto de às vezes duvidarem da misericórdia de Deus para com eles, acharão estimulante a vida desta santa.

Margarida nasceu em Laviano, Toscana (na atual Itália), em 1247. A sua mãe morreu quando ela acabava de fazer sete anos. Seu pai casou-se dois anos depois, mas nem ele nem a nova esposa lhe deram o carinho de que ela precisava. E a adolescente procurava o amor fora de casa com os rapazes da sua cidade. A sua impressionante beleza, unida a uma natureza fogosa, faziam-na irresistivelmente atraente. Gostava de chamar a atenção e entregava-se aos seus desejos lascivos. Antes de completar 17 anos, toda a cidade conhecia as suas aventuras sexuais. Aos 18, fugiu com um nobre e viveu com ele no castelo que este tinha nas colinas de Montepulciano. Ainda que lhe tivesse prometido que se casariam, o jovem nunca o fez, e assim os dois viveram abertamente como amantes durante nove anos.

A reviravolta veio com uma tragédia. Quando Margarida tinha 27 anos, o seu amante não regressou de uma viagem de negócios. Depois de vários dias de busca, um cão conduziu-a até o corpo do nobre, assassinado e coberto de folhagem no bosque. Margarida gritou e desmaiou. Após recuperar-se, encarou diretamente o tema de sua própria morte, do seu destino. Onde estava agora a alma de seu amante? Onde iria ela parar por toda a eternidade?

Deixou o castelo e decidiu mudar de vida. Foi a Cortona e lá recebeu a graça de encontrar um sacerdote bondoso e compreensivo, que a ouviu em confissão. Começou a rezar e a ter uma vida de profunda penitência, vestindo-se com farrapos, dormindo no chão com uma pedra ou um pedaço de madeira por travesseiro, e procurando humilhar-se de todas as maneiras. Quando pediu a Deus que lhe tirasse a beleza, o Senhor negou-se, dizendo-lhe que desejava que a empregasse para que os pecadores a procurassem e se convertessem.

Com o passar do tempo, foi capaz de aproximar-se cada vez mais profundamente do Senhor por meio da oração e da penitência. Certa vez, quando havia já muitos anos que vinha lutando por alcançar a santidade, o Senhor disse-lhe: “Minha filha, colocar-te-ei entre os serafins, entre as virgens cujos corações estão em chamas pelo amor de Deus”.

- “Como pode ser isso – perguntou Margarida -, se eu me manchei com tantos pecados?”

- “Minha filha, as tuas muitas penitências purificaram a tua alma de todos os efeitos do pecado, a tal ponto que a tua contrição e os teus sofrimentos te devolveram a pureza das virgens”.

Passado algum tempo, o Senhor apareceu-lhe com os seus anjos, e estes entregaram-lhe um vestido branco, um anel de noivado e uma coroa. Jesus declarou-lhe: “És minha esposa”. Diz-se que este “matrimônio místico” é o estado espiritual mais elevado possível, em que a alma é perfeitamente consciente da presença e do amor de Deus.

Em 22 de fevereiro de 1297, após 23 anos de oração, penitência e ajuda prestada aos doentes e aos pobres, Margarida morreu serenamente, aos 50 anos de idade. Quase imediatamente, começaram a surgir milagres à volta de seu túmulo, entre eles o regresso à vida de doze pessoas. O seu corpo, incorrupto até o dia de hoje, pode ser visto junto ao altar mor da Basílica de Cortona. Foi canonizada em 1728.

Que impressionante essa misericórdia de Deus capaz de levantar-nos das profundezas do pecado e elevar-nos até as alturas da santidade, como fez com Margarida! É verdade que, quando procuramos e recebemos o perdão, ainda temos um longo caminho a percorrer para reparar os nossos pecados. Mas nada há tão doce para o pecador como percorrer esse caminho de regresso à profunda e pacífica intimidade com Deus, íntimo esposo da nossa alma que sempre nos receberá de volta.

Colaboração: Eduardo Lopes Caridade
Coordenador Regional do Estado do Rio de Janeiro
Fonte: Morrow, T.G, O Namoro Cristão em um mundo supersexualizado, Editora Quadrante, São Paulo, 2011.

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